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Entrevista com Guga Kuerten

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Nesta quarta-feira, tive a oportunidade de encerrar uma pendência profissional: até então, nunca tinha tido a oportunidade de conhecer e entrevistar Gustavo Kuerten, um dos poucos personagens do esporte dos quais realmente sou fã incondicional (e quem não é?). Guga esteve em Blumenau para visitar a academia Fórmula, recém inaugurada no Shopping Neumarkt e da qual é um dos sócios em Santa Catarina. Em meio aos muitos pedidos de fotos de fãs e de quem estava na academia, e antes de se arriscar numa esteira para manter a forma, o maior catarinense vivo (na minha opinião) conversou comigo e concedeu a entrevista abaixo, que também está nas páginas do Santa desta quinta-feira. E falou de tudo um pouco, como vocês podem conferir.

Por que, afinal, uma academia para estrear no mundo dos negócios?

Guga Kuerten – Era um desejo antigo, na verdade. Esse ambiente tem tudo a ver com a minha realidade, envolvido com o esporte desde muito cedo. Sempre quis participar de algo assim, dar esta oportunidade às pessoas de ganhar qualidade de vida e criar hábitos saudáveis. Eu não tive isso. Lembro muito bem da primeira vez que estive em Roland Garros, com 15 anos, olhava aquelas academias maravilhosas, moderníssimas, e aquilo estava muito longe da minha realidade. Meus treinos físicos eram na base do improviso, uns pesos comprados pelo Larri (Passos) e só. Até corri pelos corredores do prédio dele, assim mesmo. Enfim, era muito diferente. Surgiu esta oportunidade para unir fatores, não tinha como não me interessar.

E esta tendência de academias em shoppings, também está vindo do exterior para cá?

Guga – Talvez, mas penso que as pessoas hoje querem a melhor logística possível, poder unir uma coisa a outra. Shoppings são parte muito presente da realidade de todos nós. E ainda tem a questão da segurança, infelizmente. Nossas cidades cada vez mais nos empurram para ambientes fechados, que nos garantam o mínimo de conforto e segurança. Penso que é uma tendência mesmo.

E serão outras academias depois dessa aqui em Blumenau?

Guga – Estamos abrindo quatro unidades: duas em Floripa, uma na ilha e outra no continente, aqui em Blumenau e em Joinville. A próxima, que já estava nos planos, deve ser em Criciúma. Depois, naturalmente haverá um tempo para avaliarmos o mercado, se os objetivos serão atingidos. Dependendo disso, podemos sim abrir outras unidades.

Vir a Blumenau te remete aos primeiros passos no tênis?

Guga – Inevitavelmente. Tenho uma ligação muito forte com esta região. Foi aqui que eu comecei a ter noção do que era o tênis profissional. Além disso, admiro muito a determinação do povo daqui, acho que levei um pouco disso para a minha vida. Vir até aqui sempre me faz muito bem, por tudo isso fiz questão de ajudar naquela tragédia de 2008, com a construção de algumas casas para famílias que tinham perdido tudo.

Afinal, o tênis mudou?

Guga – Ah, com certeza. Desde a época que me despedi, ali nos últimos anos que joguei em alto nível, 2003, 2004, as mudanças já eram perceptíveis. Hoje, o tênis é muito mais baseado na força física, mas ao mesmo tempo é muito mais refinado tecnicamente. Olha esses caras, um Djokovic, um Federer, esses caras jogam partidas de cinco horas decididas nos detalhes, e sem baixar a qualidade do jogo. E no dia seguinte fazem tudo outra vez! A grande mudança é essa, a exigência técnica e física é extrema.

O Fernando Meligeni (ex-tenista, atualmente comentarista) disse no blog dele após a final do Aberto da Austrália (domingo, vencido pelo sérvio Novak Djokovic) que estamos entrando na era Djokovic x (Andy) Murray. Concordas?

Guga – Acho que sim. O momento é deles, o Nole (apelido de Djokovic entre os tenistas) é um fora de série e o Murray está no auge, demorou a chegar lá em relação aos demais tops, mas chegou lá. Mas acredito que o Federer e o Nadal, que está voltando, ainda vão incomodá-los durante um bom tempo.

Roger Federer é o maior tenista de todos os tempos?

Guga – Essa é difícil. Ele é excepcional, isso é fato. E vai inevitavelmente quebrar todas as marcas em termos de títulos, de Grand Slams, enfim… Se voltarmos um pouco mais no tempo, houve tantos jogadores incríveis. Veja um Rod Laver (tenista australiano dos anos 1960, para muitos considerado o maior de todos os tempos), um Pete Sampras, tantos outros. O que eu costumo dizer é o seguinte: se fizermos uma lista dos 10 melhores, Federer estará lá. Se diminuir para cinco, ele estará lá. Entre os três, também. Se ficarem só dois, também (risos). O cara é fera.

Esta contusão do Rafael Nadal, que está desde junho fora do circuito, te faz lembrar de tudo que você passou?

Guga – Não tem como não pensar, né. Mas ele está voltando (jogará semana que vem no Chile e o Brasil Open, em São Paulo, a partir do dia 9), vamos ver como será. Certeza que ele vai ter que correr muito atrás da máquina para alcançar estes outros caras que estão voando. Mas ele (Nadal) é muito forte, física e psicologicamente. Vai superar.

O fato de vocês dois terem tido lesões até de certa forma parecidas (ainda que a do espanhol seja no joelho), e serem jogadores essencialmente de saibro, é apenas uma coincidência?

Guga – Sim, não vejo de outra forma que não uma coincidência.

No fim de semana o Brasil volta à elite da Copa Davis (enfrenta os EUA, na Flórida) pela primeira vez desde que você abandonou as quadras. Qual o real estágio do esporte no país?

Guga – A evolução é lenta, não é num passe de mágica que vamos formar jogadores em larga escala. Mas ao menos agora enxergo um trabalho sendo feito, com planejamento, organização. Os frutos virão, mas é preciso ter paciência.

Você costuma ser bem atuante nas redes sociais, e de vez em quando posta opiniões bem contundentes sobre assuntos diversos, não foge de polêmica. O que você acha, por exemplo, dos rumos que estão tomando a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 no Brasil?

Guga – Infelizmente, a conclusão óbvia é que o Brasil não está preparado para Copa e Olimpíada. Falta maturidade para aproveitar o que eventos dessa magnitude têm de melhor e de fato provocarem mudanças efetivas no país. Não vamos ter isso. Teremos estádios de mais, aeroportos, estradas, transporte de menos. E esse seria o legado que colocaria o país em outro patamar. Repito, nos falta maturidade para entender isso. Teremos Copa, Olimpíada, sem dúvida serão muito legais. Mas pouco ficará depois que eles acabarem, e isso é uma pena. O Brasil perdeu a chance.

Pensa em ser dirigente esportivo algum dia?

Guga – Não.

Nunca?

Guga – Nunca pensei nisso. Hoje, não vejo possibilidade. Mas gosto de ver esportistas assumindo funções importantes.

O que você pensa de dirigentes, principalmente no esporte, que se perpetuam no poder?

Guga – Sem dúvida não é bom, acabam personificando entidades que deveriam ser pautadas pelo pensamento plural. Mas nem de longe acho que esse seja o nosso maior problema no esporte.

Como o Guga, ídolo indiscutível, avalia o caso Lance Armstrong?

Guga – (Pensativo) O que posso te dizer, o cara decepcionou a todos, é uma fraude. É preciso separar o lado esportivo da questão social, o trabalho dele contra o câncer. Isso ainda consigo enxergar que tenha sido sincero, e não merece cair na mesma vala, ajuda pessoas no mundo todo. Falando apenas de esporte, a atitude dele deixou toda uma modalidade importante sob suspeita, pessoas que são honestas, que competem ou que praticam por prazer e se espelhavam nele. Isso é muito triste, é o contrário do que deve ser o esporte. Por isso nem consigo mais enxergá-lo como alguém do esporte, agora os problemas dele são com a Justiça.


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